Em noites adentro de solidão
Tento disfarçar meu desespero
Ponho meu terno mais bonito
E me lembro daquele seu vestido
Que ficou marcado por minhas mãos
Ao pensar nisso me sinto enjaular
Sem cuidados numa cela, resolvo sair
Vou em busca de um samba antigo
Na boemia meu corpo desfila em ruas
E continuo só, com copos na mesa
Pássaro com asas quebradas
Agonizo longe do ninho
E o luar hipnotiza, tentando me salvar
Me deixando dormente, me faz levantar
Mas o brio continua perdido
E a cabeça mantém-se baixa
Desfiro minha energia para voltar
Voltar ao meu lar que não é porto seguro
No meu aposento sou tocado pelo vírus que lá está
Regresso a ser o doente contagioso
E o rosto, novamente, fica rubro
Ainda tenho um gota no peito
Que confunde-se com as que caem do meu rosto
Fecho os olhos para evitar a inundação
Pode ser que eu naufrague
Melhor mascarar o vazio
E percebi que por isso sempre passei
E nunca aprendi a nadar.
DINHO BRITO
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